Se você acha que os novos consoles PlayStation 5 (PS5) e Xbox Series X/S estão caros, um alento: os videogames já custaram muito mais no passado — e não estamos falando apenas no Brasil. Caso fosse vendido hoje, o clássico Atari 2600 custaria R$ 4.824 na cotação atual, mais caro que os consoles da geração atual. Isso sem falar no SNK Neo Geo, que chegaria às lojas pela bagatela de R$ 6.785, ou no infame Apple Pippin, com preço sugerido de R$ 5.503. Confira, na seguir a lista, os videogames mais caros já vendidos no mundo, segundo seu preço de lançamento em dólares.
Antes de prosseguir, vale um esclarecimento: nosso ranking foi feito tendo como base o valor e ano de chegada dos consoles nos EUA, ajustada à inflação norte-americana do período até janeiro de 2021. Por isso, aparelhos mais antigos têm um preço nominal menor e um preço atualizado maior. O valor entre parênteses é quanto custaria o produto nos dias atuais. A consulta foi feita usando a calculadora do Departamento de Trabalho do governo dos EUA.
1995: Sega Saturn (1995) – US$ 400 (US$ 696, cerca de R$ 3.794)
Após o sucesso do Mega Drive, a Sega se viu na difícil situação de fazer seu sucessor. Enquanto o lado norte-americano da empresa apostava no acessório Sega 32x, aproveitando a base conquistada do console anterior, o lado japonês decidiu desenvolver um hardware do zero. Assim, no meio dessa disputa, nasceu o Sega Saturn.
O Saturn vendeu relativamente bem no Japão, impulsionado sobretudo pelos ports de arcade, porém, no resto do mundo, o PlayStation ganhou de lavada. Os motivos são simples: o Saturn era bem mais caro (US$ 400, cerca de R$ 2.175 na cotação atual) e o console da Sony tinha uma biblioteca de jogos mais robusta. O mais irônico é que, após o fim abrupto da parceria com a Nintendo, a Sony chegou a propor à Sega a criação de um novo console. Mas a Sega japonesa teria vetado a parceria em favor do Saturn e a Sony decidiu desenvolver seu próprio videogame.
1982: Atari 5200 – US$ 269 (US$ 746, cerca de R$ 4.060)
Após anos dominando o mercado de games, a Atari entrou na década de 80 ameaçada por novos concorrentes, sobretudo pelos computadores pessoais. Com isso, a empresa norte-americana decidiu lançar uma versão “turbinada” do clássico 2600, batizada de Atari 5200, em 1982. A melhoria no hardware veio com um preço de lançamento alto: US$ 269, aproximadamente R$ 1.468.
Não foi apenas isso que afastou os consumidores do console. O controle, embora tenha sido pioneiro ao introduzir o direcional analógico, era difícil de manusear. Os jogos não tiveram o salto gráfico prometido e não havia retrocompatibilidade com o Atari 2600. Para piorar, o crash do mercado de games de 1983 já estava batendo à porta. Resultado: o Atari 5200 foi descontinuado dois anos depois do lançamento, vendendo cerca de um milhão de unidades no mundo todo.
2006: Sony PS3 [60GB] – US$ 600 (US$ 791,50, cerca de R$ 4.299)
Na época do seu lançamento no Brasil, o PlayStation 3 (PS3) causou espanto ao ser anunciado por um preço para lá de estratosférico: R$ 7.890, o que daria inacreditáveis R$ 16.857 pela correção da inflação do período. Mas não foi só por aqui que o preço do sucessor do PlayStation 2 (PS2) provocou rebuliço. Nos EUA, a versão do PS3 com HD de 60 GB era vendido nas lojas por US$ 600 (em torno de 3.256 na cotação atual).
Os componentes de ponta eram a principal justificativa para o preço alto do videogame da Sony: o leitor de Blu-ray, o processador Cell e o chip gráfico exclusivo, além das placas de Wi-Fi e de Bluetooth – tudo isso encareceu demais o PS3. Para comparar, o Xbox 360 teve preço inicial de lançamento de US$ 400 (cerca de R$ 2.170) em 2005, enquanto o Wii saía por apenas US$ 249 (cerca de R$ 1.351) no lançamento em 2006. Resultado: o revolucionário console da Nintendo levou a melhor na geração.
1989: NEC TurboGrafx-CD – US$ 400 (US$ 821, cerca de R$ 4.455)
Antes da Sega apostar no CD para alavancar as vendas do Mega Drive, criando assim o Sega CD, outro console da geração 16-bits já tinha tentado essa estratégia. O TurboGrafx-16 chegou a ser um campeão de vendas no Japão (sob o nome de PC-Engine), mas nunca emplacou no Ocidente. Um dos motivos é que o console foi lançado nos EUA na mesma época em que o Mega Drive, que tinha um trabalho de marketing muito melhor, e acabou sendo eclipsado.
O ineditismo do TurboGrafx-CD, o primeiro videogame com leitor de discos do mundo, poderia dar uma vantagem ao console em meio à guerra entre Sega e Nintendo, mas o preço alto e a falta de jogos para o novo acessório enterraram as pretensões de conquistar novos territórios. Apenas 500 mil unidades do TurboGrafx CD foram vendidas em todo o mundo. A NEC até tentou uma nova cartada em 1992 com o TurboDuo, uma versão mais barata com leitor de CD embutido, mas o mercado já estava totalmente dominado pela dupla Mega Drive e SNES.
1977: Atari 2600 – US$ 199 (US$ 889, cerca de R$ 4.824)
O clássico Atari Video Computer System (depois chamado de 2600) foi o responsável pela primeira grande febre dos videogames da história. Ele consolidou a ideia dos consoles capazes de rodar jogos diferentes usando cartuchos, então uma novidade na época. Seu grande trunfo foi se aproveitar de jogos de sucesso dos arcades, como Space Invaders e Pac Man, para conquistar esse mercado nascente. Era como ter um fliperama em casa, dizia a empresa.
Essa novidade tinha um preço: US$ 199 (cerca de R$ 1.075), que era compensado pelo valor baixo dos cartuchos, vendidos por cerca de US$ 20 (em torno de R$ 107). Mesmo assim, o sucesso do Atari 2600 foi gigantesco e incentivou outras empresas a entrarem no mundo dos videogames. No Brasil, o console foi lançado em 1983 pela Polyvox e também foi sucesso de vendas. Mas, naquele mesmo ano, o Atari 2600 acabou sucumbindo por conta de decisões equivocadas e foi engolido pelo crash do mercado de games de 1983, deixando um legado que perdura até hoje.
1980: Mattel Intellivision – US$ 275 (US$ 924, cerca de R$ 5.014)
No começo dos consoles foram muitos os que tentaram rivalizar com o Atari 2600, e o Intellivision foi o que chegou mais perto. Seu hardware era um dos mais avançados da época e sua estrutura modular permitia acrescentar acessórios que davam novas funcionalidades aos jogos. Um dos mais curiosos foi o adaptador para rodar games do próprio Atari 2600 e um serviço de assinatura para baixar títulos pela TV a cabo (sim, isso na década de 80).
O único problema do Intellivision era o preço. No lançamento, em 1980 o console saía por US$ 275 (aproximadamente R$ 1.492 na cotação atual), enquanto o Atari 2600 já era vendido na época por US$ 125 (cerca de R$ 678). Em 1983, a Mattel lançou uma versão menor e mais barata, chamada de Intellivision II, por US$ 150 (cerca de R$ 813). Foi essa versão que passou a ser vendida no Brasil em 1983 pela Digiplay, sendo o único país fora dos EUA a comercializar essa versão. O problema é que o crash do mercado norte-americano de games já causava estragos e a Mattel acabou vendendo a marca Intellivision após mais de 3 milhões de consoles comercializados.
1996: Apple Bandai Pippin – US$ 600 (US$ 1.014, cerca de R$ 5.503)
A história da Apple tem alguns fracassos pelo caminho, e o Pippin foi talvez o maior deles. Em 1996, perdendo relevância no mercado de computadores pessoais, a empresa da maçã buscou no mundo dos videogames uma tábua de salvação. Em parceria com a japonesa Bandai, a Apple desenvolveu um híbrido entre computador e console, com acesso à internet e tudo, e o resultado foi desastroso.
Para começar, o Pippin tinha cara de console, era vendido como console, mas tinha preço de computador (US$ 600, cerca de R$ 3.251). Para se ter uma ideia, o Playstation era vendido pela metade desse valor. Além disso, apenas 25 jogos foram lançados, sendo a maior parte ports de qualidade inferior — embora o Pippin tivesse um hardware melhor que os rivais. Por essas e outras, após vender 42 mil unidades em todo o mundo, o produto acabou cancelado no ano seguinte, quando Steve Jobs retornou à Apple e iniciou o processo de reestruturação da empresa.
1991: SNK Neo Geo AES – US$ 650 (US$ 1.263, cerca de R$ 6.785)
Nos anos 80 e 90, a SNK dominava o mercado de fliperamas e a ideia de migrar para o mercado de consoles parecia natural. Porém, os componentes das suas máquinas eram avançados demais para a época, com dois processadores e um chip gráfico de 24-bits. Resultado: o preço do Neo Geo era astronômico. No lançamento nos EUA, em 1991, o videogame era vendido a US$ 650 (aproximadamente R$ 3.494), mais que o dobro de um SNES.
Não apenas o console era caro, como os gigantescos cartuchos também. Cada um custava cerca de US$ 200 (cerca de R$ 1.074). Não à toa a SNK, de início, pretendia vender o Neo Geo apenas para empresas, como lojas e locadoras de games. Porém, a alta demanda fez com que a empresa ampliasse o escopo para os usuários domésticos, criando um nicho para videogames super caros.
Obviamente que o Neo Geo não chegou a competir com o SNES e o Mega Drive, mas teve seu público fiel. Tanto que ganhou novas versões, como o Neo Geo CD e o Neo Geo Pocket. Mesmo assim, apenas 1 milhão de unidades do Neo Geo AES foram vendidas em todo o mundo.
1993: 3DO – US$ 700 (US$ 1.284, cerca de R$ 6.897)
A ideia por trás do 3DO era ambiciosa: criar não apenas o videogame mais avançado de sua época, mas também um novo tipo de produto eletrônico que se tornaria tão comum nos lares quanto os videocassetes. Para isso, a empresa do fundador da EA, Trip Hawkins, licenciou o novo produto para que outras companhias pudessem fabricar, como Panasonic, Sanyo e a Goldstar (que se tornaria a LG). Só que essa estratégia de marketing não deu certo.
Vendido no lançamento a US$ 700 (aproximadamente R$ 3.764), o 3DO era visto como um videogame caro demais pelos consumidores. Pelo preço de um console, era possível comprar um Mega Drive e um SNES. No Brasil, na era pré-plano Real, o 3DO chegou em 1994 com preços de até US$ 1.500 (cerca de R$ 8.069). Outra reclamação era a falta de jogos exclusivos, já que a maioria eram ports de outros sistemas. Mas a pá de cal foi a chegada da nova geração de videogames, como o Playstation e o Sega Saturn. Assim, o 3DO saiu de cena em 1996 vendendo 2 milhões de unidades no mundo todo.
1991: Philips CD-i – US$ 800 (US$ 1.554, cerca de R$ 8.363)
Enquanto consumidores do mundo inteiro trocavam sua coleção de vinis por CDs, a Philips e a Sony davam os próximos passos para o novo formato que se consolidava. Com a parceria das duas empresas nasceu o CD-i, o CD interativo. Para rodar esse ancestral do DVD e do Blu-ray, a Philips lançou um aparelho de mesmo nome com um preço até razoável para eletrônicos pioneiros: US$ 800, ou algo em torno de R$ 4.315.
O problema é que interatividade e games andavam lado a lado, e o marketing em torno da novidade era que o CD-i era um console futurista. Ele vinha até com um controle semelhante ao do Mega Drive, além de jogos exclusivos de franquias da Nintendo, como Zelda e Mario.
Porém, logo ficou claro que o CD-i não era projetado para rodar games, já que a qualidade dos jogos era muito pior do que os de cartucho. O aparelho sobreviveu mais algum tempo por conta de conteúdo educacionais e dos jogos em FMV (Full Motion Video, também chamados de filmes interativos). Apenas em 1998 o CD-i foi descontinuado com uma vendagem aproximada de 1 milhão de unidades.